quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

O Poder da Esperança

A seguir está o resumo do sermão pregado pelo autor, durante o Concílio Anual da Associação Geral, Silver Spring, Maryland, nos Estados Unidos, em outubro de 2007. – Os Editores

Quando compartilhou com Seus discípulos a mensagem profética registrada em Mateus 24 e 25, Jesus tinha total consciência dos trágicos eventos que pouco tempo depois viriam sobre Ele. Também expressou Sua preocupação pelo futuro de Sua amada igreja em um mundo em desintegração.

Surpreendentemente, porém, Ele parecia menosprezar esses movimentos catastróficos e solicitou a Seus seguidores que não ficassem obcecados por eles. Contra esse cenário desalentador, Ele levantou Sua voz duas vezes em tons triunfantes, quando nos dá a segurança da completa vitória do evangelho: “E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo” (24:14), diz Ele; e irá produzir grande colheita ao redor do mundo, reunida pelos anjos “de uma a outra extremidade dos céus” (24:30, 31).

Jesus Não é um Alarmista

Vejo certo padrão no capítulo 24 de Mateus. Jesus começa com uma advertência que expressa Sua inquietação pela igreja. Ele fala como o Pastor de Seu amado rebanho: “Vede que ninguém vos engane” (verso 4). Aí, Ele cita alguns dos perigos que a igreja enfrentaria após Seu retorno para o Pai: falsos messias, guerras e rumores de guerra, fome e terremotos. Jesus, porém, parece minimizar a importância desses eventos como indicadores proféticos de Seu iminente retorno. Parece estar dizendo: “Assim serão os eventos da história; não são sinais do fim,” como o verso 6 é parafraseado na versão bíblica The Message (A Mensagem).

Jesus, então, chega mais perto de Sua igreja e fala primeiro de tempos difíceis que virão sobre ela. O Campeão do amor tem o coração partido ao concluir que “o amor se esfriará de quase todos” (verso 12). Já nos versos 13 e 14 Ele faz duas predições surpreendentemente positivas a respeito da firmeza e do evangelismo. (Retornaremos a esses versos mais adiante.)

Um pouco mais tarde Jesus parece recomeçar advertindo a igreja contra falsos cristos (verso 23). Ele fala de um tempo de tribulação sem precedente e ainda informa que esse tempo será abreviado (versos 21, 22). Descreve, ainda, as circunstâncias da Sua verdadeira vinda (versos 27-30) e alcança o clímax de Sua mensagem profética no verso 31, como um eco do que disse no verso 14. Nesse verso Ele disse que o evangelho será pregado em todo o mundo, e agora sabemos que, como resultado, teremos uma colheita mundial, que “Seus eleitos” serão reunidos “de uma a outra extremidade do céu”!

Que palavras estranhas e maravilhosas foram proferidas por Ele, no Monte das Oliveiras! Rejeitado e desprezado (como Ele era) pelos líderes da nação e, logo à Sua frente, o sofrimento de uma morte vexatória!

“Ele enviará Seus anjos.” Eles são dEle, pois Ele mesmo é Deus. A voz como de trombeta no Monte Sinai era excessivamente alta. Quanto mais alto e mais terrível será o som da trombeta que despertará os mortos, convocando mortos e vivos diante do Seu trono!

Os anjos são Seus; os eleitos são Seus. São de Cristo, comprados pelo Seu precioso sangue, Seus, porque foram feitos “eleitos, segundo a presciência de Deus Pai” (1Pe 1:2), e doados ao único Filho. Eles são dEle, e ninguém pode arrancá-los de Suas mãos. Seus anjos irão reuni-los dos quatro cantos. Nenhum deles se perderá, onde quer que estejam, nos lugares mais remotos da Terra ou deitados em tumbas há muito esquecidas.

Os anjos irão reuni-los a todos – tanto nas cabanas como nos palácios, nas cidades abarrotadas da Ásia e no altiplano da América do Sul; nos centros de aprendizado sofisticados da Europa Ocidental e América do Norte e nas choupanas dos refugiados de guerra. Os anjos levarão cada um dos eleitos de Deus a salvo para o Senhor que os amou e morreu por eles, em quem creram e a quem amaram e confiaram até a morte.

Predições Emocionantes

Voltemos aos versos 13 e 14. Aqui temos, lado a lado, duas predições gloriosas dessa mensagem de Cristo para o fim dos tempos: uma se refere à firmeza dos Seus seguidores e a segunda, à universalidade da proclamação do evangelho.

Estão juntas porque são correlatas. Paciência inabalável e perseverante lealdade a Cristo são necessárias para a proclamação da mensagem do evangelho. Quem são aqueles que resistirão a todos os ataques à sua fé e amor? O que os torna tão inabaláveis? São eles fortes por natureza, desafiadores e insensíveis diante da dor física e da angústia emocional?

Provavelmente, não! Ao contrário, isso ocorre porque eles têm esperança, confiaram nas promessas do Salvador e fizeram delas o centro de sua vida.

Fico surpreso quando vejo como o Evangelho tem progredido com o apoio da tecnologia. Pregamos que, no fim dos tempos, “muitos o esquadrinharão, e o saber se multiplicará” (Dn 12:4). E os resultados são impressionantes. Transportes modernos por preços acessíveis, trabalhos de imigração, paz em locais conhecidos como permanentemente problemáticos, comunicação digital e relativa prosperidade em lugares sem história de auto-suficiência. Tudo isso estimula jovens e velhos a irem a todos os lugares, dos mais conhecidos até os territórios mais inacessíveis.

O que Deus Tem Feito

Tenho o privilégio de trabalhar como pastor de igreja e também para o canal de televisão que a igreja inaugurou na Romênia. Um dia antes de minha viagem para Washington, DC, o líder jovem de minha igreja começou a preparar uma viagem missionária para a África, no ano seguinte. Saímos de nosso isolamento e enxergamos o mundo como nosso campo missionário. Nessa comissão, temos um membro leigo, bastante jovem, vindo da Romênia. Ele é um estudante de odontologia e já participou de três projetos médico-missionários nas Américas do Sul e Central. Um grupo de 30 jovens acabou de chegar do Quênia e, entre eles, um casal de alunos do ensino médio e faculdade, a esposa do presidente da união romena e toda a família do tesoureiro.

Não consigo descrever quão feliz me sinto quando vejo, a cada dia, milhares de lares sendo adicionadas à nossa lista de espectadores potenciais da Speranta TV , o mais novo membro da família Hope Channel (Canal da Esperança). Estamos atingindo, agora, cerca de 2 milhões de lares por cabo e DTH*, sem mencionar a Internet. Em cinco meses, houve 1.2 milhões de visitas ao nosso website, onde a TV pode ser acessada ao vivo.

É inacreditável! Começamos a usar a tecnologia de satélite há apenas alguns anos (com a Rede 96 e 98, e com o projeto ATOS 2000, do programa Está Escrito, em Bucareste, Romênia), e agora, poucos anos depois, temos uma programação romena, de 24 horas, 7 dias por semana, atingindo milhares de lares na Europa!

Outro dia, um de nossos técnicos estava ligando para uma empresa para encomendar um produto. Quando forneceu seu endereço eletrônico, o homem perguntou: “É verdade? Você trabalha na Speranta TV? Eu gosto muito desse canal. Parabéns!” Acabo de receber uma mensagem de um telespectador que, a princípio, ficou tão zangado pelo fato de sua companhia de TV a cabo ter acrescentado nosso canal à sua programação que resolveu ligar para lá e pedir que ele fosse retirado. Eles não o fizeram e, agora, esse mesmo telespectador estava escrevendo para dizer que gosta muito de nós!

O que está acontecendo na Romênia é apenas uma pequena parte desse trabalho em crescimento ao redor do mundo – tudo com o mesmo propósito: o evangelho a todo mundo, o mais rápido possível. Mais que no passado, essa é a geração da esperança. O que antes parecia ser uma missão impossível, está se cumprindo agora. Para tal povo Jesus disse: “Em verdade vos digo que não passará esta geração, sem que tudo isto aconteça” (Lc 21:32).

Não Pelo Poder da Tecnologia

Entretanto, não obterá sucesso quem possuir a melhor tecnologia ou quem administrar de modo mais eficiente os recursos financeiros. O evangelho será pregado a todo mundo, disse Jesus, por aqueles que perseverarem. E o único modo de perseverar inabalável é com esperança.

Por vezes, o testemunho do povo da esperança vem de forma inesperada, sob o disfarce de aparente fraqueza e derrota. O impacto sobre as pessoas é, muitas vezes, trazido à luz do dia apenas depois de longos atrasos, como é evidenciado pela história, a seguir, extraída, na íntegra, do jornal romeno de maior circulação no país.

A história, escrita por um jornalista que nunca conheci, foi publicada no início de 2007, num momento em que o país debatia violentamente algumas questões relacionadas com a liberdade religiosa e a remoção dos ícones ortodoxos das salas de aulas romenas.

Intitulada “Perdoe-me , Beatrice!”, a história correu como segue:

“Cerca de vinte e cinco anos atrás, eu era um garoto da sétima série em um bairro de trabalhadores de Bucareste. Tinha uma colega de classe chamada Beatrice. Ela era pequena, linda e inteligente. Ela sentava na segunda carteira da fila do meio. Era a melhor da classe. Não falava sem permissão e vestia-se de acordo com as normas. Em resumo, era a criança dos sonhos, comparado ao resto de nós, barulhentos, mal educados e rebeldes.

“Para toda a classe, Beatrice era um mistério. Todos nós sentíamos uma forte inveja dela. Naquela época, era inadmissível para uma criança em idade escolar perder um dia inteiro de aulas, a cada semana. Além de perder todas as aulas, aos sábados, Beatrice saía antes do término das aulas na sexta-feira. Todos nós tínhamos aulas à tarde, e quando se aproximava o pôr-do-sol, ela reunia seus pertences e desaparecia. Era como Cinderela saindo do baile, às pressas, antes da meia noite.

“Beatrice era filha de médicos e sua família fazia parte da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Todos os sábados ela recebia falta às aulas, sem justa causa. O diretor da escola e outros membros da administração freqüentemente solicitavam a presença de seus pais na escola, onde eram acusados, humilhados e maltratados. A própria Beatrice, em todas as reuniões da escola, era questionada, criticada, censurada e desprezada por causa de sua fé.

“Numa sexta-feira à tarde, tivemos uma aula de História. Quase no fim, cinco minutos antes do recreio, a professora sugeriu à classe que impedíssemos que Beatrice fosse embora. ‘É hora de colocarmos um ponto final a esse tratamento especial’, disse ela. ‘Vou pedir que seus colegas a mantenham na classe e vou permanecer aqui até que o próximo professor chegue.’

“Beatrice, sem se intimidar com o tratamento, começou silenciosamente a recolher seus pertences. A professora desafiou a classe a impedi-la. Alguns dos garotos, eu inclusive, corremos para frente da porta para mantê-la fechada. Outros a rodearam tentando convencê-la a desistir. Beatrice sentou-se em sua carteira. Após alguns minutos ouvindo nossos insultos, ela tapou os ouvidos, como para se proteger e começou a chorar. As lágrimas rolavam pela face como dois riachos em busca da luz do dia. Ficamos chocados e sem ação. Houve um silêncio absoluto, como se, ao mesmo tempo, toda a classe recebesse uma visão. Todos estávamos envergonhados de nós mesmos.

“Sem dar a mínima atenção aos protestos de nossa professora, todos voltamos aos nossos lugares, humildes e penitentes. Beatrice saiu com as lágrimas ainda rolando pelo seu lindo rosto. Acima de nós, pairava apenas o ícone permitido nas escolas durante aqueles anos – destacando o Camarada Nicolae Ceausescu.

“Daquele dia em diante, Beatrice não teve mais problemas quando chegava a hora de deixar a escola. Desenvolvemos uma misteriosa solidariedade. Até a ajudávamos a sair: nós a cercávamos e saíamos com ela pelo corredor para evitar que os professores a vissem partir. Compartilhávamos nossas anotações das aulas de sábado com ela e até assoprávamos alguma coisa nas provas, embora ela nunca precisasse disso. Dois anos mais tarde, ela e sua família emigraram. Desde então, eu não soube mais nada sobre aquela menina.

“Numa sociedade normal, se houver apenas uma escola com apenas um estudante proveniente de família que professa outra fé, uma atitude deve ser tomada fora das salas de aula. Se não for assim, muitas outras crianças voltarão a viver a dolorosa história de Beatrice.”

Veja, esse homem estava falando 25 anos mais tarde. Seu encontro na escola, aos 12 ou 13 anos de idade, com uma adolescente adventista, guardadora do sábado, mudou sua compreensão e deu a ele, anos depois, a coragem moral de tomar uma posição impopular. Um encontro emocional com uma cristã fiel, que testemunhava de sua fé, iniciou um processo que, finalmente, produziu frutos.

Construindo Esperança

Nossa missão – nosso principal desafio – é construir tais testemunhas de esperança. Elas são o nosso mais precioso bem, valem cada hora que gastamos com elas, valem cada sermão estusiasmado que pregamos para elas, valem cada treinamento que preparamos para elas e valem qualquer sacrifício que façamos para instruí-las e equipá-las. Todos os recursos da igreja não são nada sem as pessoas com essa esperança, preparadas para resistir até o fim. Não é demasiado gastarmos todos os recursos da igreja para construir pessoas com tal esperança.

Elas constituem o mais precioso segredo guardado no exército do Senhor – inabaláveis, imbatíveis, irresistíveis e insubstituíveis. Pessoas de esperança! Fazemos parte desse grupo?

*Direto aos Lares, também conhecido como DBS – Direct Broadcast Satellite.

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